A revista Itinerante é uma nova publicação trimestral sobre conhecer Portugal através das caminhadas.
É temática e o número que saíu este mês é sobre o Caminho de Santiago.
Ainda só sairam duas, uma sobre os Faróis e outra sobre as Invasões Francesas. Tem vários artigos de fundo com especialistas no tema central e pequenos artigos escritos por outras pessoas... como eu.
Tenho uma pequena crónica/testemunho e 3 fotografias. É fácil de perceberem quais são, até porque possivelmente já as viram :)
Se tiverem curiosidade passem por uma papelaria e digam de vossa justiça.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
sábado, 10 de julho de 2010
Livros de viagem - Lista
Depois de ter colocado um artigo/desafio sobre livros de viagem está na hora de compilar e colocar disponíveis as várias sugestões que foram enviadas através dos comentários e do e-mail.
O objectivo é criar uma listagem de livros de viagem.
A passo de Caranguejo - Umberto Eco.
Páginas da Peregrinação - Fernão Mendes Pinto
Moby Dick - Herman Melville
Na Patagónia - Bruce Chatwin
O mundo do fim do mundo - Luís Sepúlveda
Patagónia Express - Luís Sepúlveda
Planisfério Pessoal - Gonçalo Cadilhe
A Lua pode esperar - Gonçalo Cadilhe
África Acima - Gonçalo Cadilhe
Pedalar devagar - 4 anos de bicicleta pela Ásia - Valérie e Joao Fonseca
Into the Wild - J. Krakauer
The Call of the Wild - Jack London
O rio de luz - Javier Reverte
Espelhos - Eduardo Galeano
As Veias Abertas da América - Eduardo Galeano
Breve história de tudo - Bill Bryson
Motorcycle Diaries - Che Guevara
As viagens de Gulliver - L. Gulliver
Voyages of the Beagle - C. Darwin
Passageiro Frequente - Mia Couto
As Viagens de Marco Polo - Rota da Seda
Nem aqui, nem ali - Bill Bryson
Abraço
Fico à espera de novas sugestões e também irei acrescentado novos títulos a esta lista.
O objectivo é criar uma listagem de livros de viagem.
A passo de Caranguejo - Umberto Eco.
Páginas da Peregrinação - Fernão Mendes Pinto
Moby Dick - Herman Melville
Na Patagónia - Bruce Chatwin
O mundo do fim do mundo - Luís Sepúlveda
Patagónia Express - Luís Sepúlveda
Planisfério Pessoal - Gonçalo Cadilhe
A Lua pode esperar - Gonçalo Cadilhe
África Acima - Gonçalo Cadilhe
Pedalar devagar - 4 anos de bicicleta pela Ásia - Valérie e Joao Fonseca
Into the Wild - J. Krakauer
The Call of the Wild - Jack London
O rio de luz - Javier Reverte
Espelhos - Eduardo Galeano
As Veias Abertas da América - Eduardo Galeano
Breve história de tudo - Bill Bryson
Motorcycle Diaries - Che Guevara
As viagens de Gulliver - L. Gulliver
Voyages of the Beagle - C. Darwin
Passageiro Frequente - Mia Couto
As Viagens de Marco Polo - Rota da Seda
Nem aqui, nem ali - Bill Bryson
Abraço
Fico à espera de novas sugestões e também irei acrescentado novos títulos a esta lista.
sábado, 3 de julho de 2010
Notas de um Caminho Primitivo
Como se decide? Porque se decide partir para fazer 550 km a pé com uma mochila às costas?
Sempre que preciso de fazer o que designo de purga (social leia-se), sair da zona de conforto, faço uma viagem destas, algumas delas no Caminho de Santiago. Desta vez escolho o Caminho del Salvador que liga Léon a Oviedo, seguindo-se o Primitivo até Santiago e daí o prolongamento até Finisterra e Muxía.
Na Gare do Oriente entro num autocarro para Salamanca que tal como na música dos Xutos, “Ainda não tinha saído e já estava atrasado”. Até Salamanca são nove horas de distância e um transbordo em Albergaria.
Em Vilar Formoso apanho um controlo de fronteira na Europa comunitária. Uma cidadã chinesa é interpelada pelo polícia que lhe pede o passaporte e o leva para o posto. O autocarro fica ali parado à espera até que a situação se resolva. Demorou tanto tempo que estava a disposto a legalizá-la eu próprio só para podermos seguir. Ela manteve-se ali impávida e serena. Não lhe vi os olhos arregalarem-se. Não se arredondaram nem um bocadinho.
Chego a Salamanca a tempo de comprar o bilhete para Léon e um pouco de comida para os primeiros dias. No dia seguinte é quinta-feira de Páscoa e até sábado está tudo fechado.
Entro num autocarro apinhado de estudantes que regressam a casa para a Semana Santa para efectuar o derradeiro trajecto de três horas desta odisseia. Quando chego, ao fim de tantas horas, penso que me enganei e fui até à Escandinávia.
Mas o que eu quero é caminhar e de manhã bem cedo começo o itinerário que me levará a Oviedo em 4 etapas, atravessando a Cordilheira Cantábrica coberta de neve, pastos, pequenos povoados onde o silêncio só é quebrado pelos cães e onde o perfume a lenha queimada é uma constante.
Chego a Oviedo no domingo de Páscoa, mesmo a tempo de assistir à Procissão del Resucitado, onde as confrarias de homens encapuzados percorrem as ruas do centro histórico seguidas do andor com a imagem de Jesus Cristo. Segue-se uma fababa de javali para tirar a barriga de misérias.
Com a dureza das primeiras etapas surgem as dores no corpo, até nos adaptarmos ao peso da mochila e à frequência de caminhadas, mas a vontade de continuar, e o apelo do caminho são o melhor tónico.
O Caminho Primitivo, apesar de seguir o itinerário seguido por Afonso II no séc. IX aquando da primeira peregrinação a Campus Stellae, é dos menos percorridos. Assim, é possível encontrar o isolamento, observar inúmeros animais e visitar antigos hospitais de peregrinos em ruínas, sempre com as montanhas e vales cobertos de nuvens como pano de fundo
No caminho aprendemos a separar o essencial do acessório, despojamo-nos de quase tudo o que não interessa e regressamos aos nossos instintos mais básicos. O nosso cérebro passa a funcionar em função do que vamos comer, onde iremos obter essa a comida (que nos locais mais isolados pode ser difícil), onde nos abrigaremos durante a noite. Quando chego ao albergue, lavo roupa para aproveitar o maior número de horas sol possível, tomo duche e só depois preparo uma refeição. No fundo, sou uma autêntica “fada do lar”.
O Caminho quando feito a solo é muito introspectivo. Tempo para pensar é o que não falta, e essa é uma das maiores mais-valias que podemos tirar de uma experiência destas.
Quando chego a Santiago vejo inúmeros peregrinos sentados na Praça do Obradoiro, após a missa ao final da manhã em que assistiram à impressionante cerimónia em que o botafumeiro percorre a nave da catedral balançando sobre as nossas cabeças e abraçarem a imagem do Santo. São os rituais associados à chegada ao destino final.
Revêem-se caras com que nos cruzámos num qualquer bosque, num qualquer albergue, vêem-se sorrisos, vêem-se lágrimas, vêem-se muitos coxeando para lá e para cá. São marcas da vontade, da perseverança, do alento que muitos procuram neste Caminho.
Como um polvo à Gallega e uns pimentos de Padrón para comemorar, mas a minha viagem não termina aqui.
Sigo para oeste até ao cabo Finisterra onde admiro o pôr-do-sol, como um pagão na Era Pré-Cristã. Não cumpro a tradição de queimar a roupa. Não porque não tenha pecados e não precise de purificar a alma, mas apenas porque ainda continuarei até Muxía. Aí sim, termino este périplo de onde certamente regresso uma pessoa diferente. E essa sensação é o melhor que uma viagem nos pode dar.
Sempre que preciso de fazer o que designo de purga (social leia-se), sair da zona de conforto, faço uma viagem destas, algumas delas no Caminho de Santiago. Desta vez escolho o Caminho del Salvador que liga Léon a Oviedo, seguindo-se o Primitivo até Santiago e daí o prolongamento até Finisterra e Muxía.
Na Gare do Oriente entro num autocarro para Salamanca que tal como na música dos Xutos, “Ainda não tinha saído e já estava atrasado”. Até Salamanca são nove horas de distância e um transbordo em Albergaria.
Em Vilar Formoso apanho um controlo de fronteira na Europa comunitária. Uma cidadã chinesa é interpelada pelo polícia que lhe pede o passaporte e o leva para o posto. O autocarro fica ali parado à espera até que a situação se resolva. Demorou tanto tempo que estava a disposto a legalizá-la eu próprio só para podermos seguir. Ela manteve-se ali impávida e serena. Não lhe vi os olhos arregalarem-se. Não se arredondaram nem um bocadinho.
Chego a Salamanca a tempo de comprar o bilhete para Léon e um pouco de comida para os primeiros dias. No dia seguinte é quinta-feira de Páscoa e até sábado está tudo fechado.
Entro num autocarro apinhado de estudantes que regressam a casa para a Semana Santa para efectuar o derradeiro trajecto de três horas desta odisseia. Quando chego, ao fim de tantas horas, penso que me enganei e fui até à Escandinávia.
Mas o que eu quero é caminhar e de manhã bem cedo começo o itinerário que me levará a Oviedo em 4 etapas, atravessando a Cordilheira Cantábrica coberta de neve, pastos, pequenos povoados onde o silêncio só é quebrado pelos cães e onde o perfume a lenha queimada é uma constante.
Chego a Oviedo no domingo de Páscoa, mesmo a tempo de assistir à Procissão del Resucitado, onde as confrarias de homens encapuzados percorrem as ruas do centro histórico seguidas do andor com a imagem de Jesus Cristo. Segue-se uma fababa de javali para tirar a barriga de misérias.
Com a dureza das primeiras etapas surgem as dores no corpo, até nos adaptarmos ao peso da mochila e à frequência de caminhadas, mas a vontade de continuar, e o apelo do caminho são o melhor tónico.
O Caminho Primitivo, apesar de seguir o itinerário seguido por Afonso II no séc. IX aquando da primeira peregrinação a Campus Stellae, é dos menos percorridos. Assim, é possível encontrar o isolamento, observar inúmeros animais e visitar antigos hospitais de peregrinos em ruínas, sempre com as montanhas e vales cobertos de nuvens como pano de fundo
No caminho aprendemos a separar o essencial do acessório, despojamo-nos de quase tudo o que não interessa e regressamos aos nossos instintos mais básicos. O nosso cérebro passa a funcionar em função do que vamos comer, onde iremos obter essa a comida (que nos locais mais isolados pode ser difícil), onde nos abrigaremos durante a noite. Quando chego ao albergue, lavo roupa para aproveitar o maior número de horas sol possível, tomo duche e só depois preparo uma refeição. No fundo, sou uma autêntica “fada do lar”.
O Caminho quando feito a solo é muito introspectivo. Tempo para pensar é o que não falta, e essa é uma das maiores mais-valias que podemos tirar de uma experiência destas.
Quando chego a Santiago vejo inúmeros peregrinos sentados na Praça do Obradoiro, após a missa ao final da manhã em que assistiram à impressionante cerimónia em que o botafumeiro percorre a nave da catedral balançando sobre as nossas cabeças e abraçarem a imagem do Santo. São os rituais associados à chegada ao destino final.
Revêem-se caras com que nos cruzámos num qualquer bosque, num qualquer albergue, vêem-se sorrisos, vêem-se lágrimas, vêem-se muitos coxeando para lá e para cá. São marcas da vontade, da perseverança, do alento que muitos procuram neste Caminho.
Como um polvo à Gallega e uns pimentos de Padrón para comemorar, mas a minha viagem não termina aqui.
Sigo para oeste até ao cabo Finisterra onde admiro o pôr-do-sol, como um pagão na Era Pré-Cristã. Não cumpro a tradição de queimar a roupa. Não porque não tenha pecados e não precise de purificar a alma, mas apenas porque ainda continuarei até Muxía. Aí sim, termino este périplo de onde certamente regresso uma pessoa diferente. E essa sensação é o melhor que uma viagem nos pode dar.
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