Termino hoje o meu Caminho de Santiago.
É a segunda vez que o faço, embora desta vez tenha vindo apenas de Astorga.
Fui até à Catedral e como é Domingo de manhã estava a haver missa.
Cheguei precisamente no momento em que estavam a realizar a cerimónia com o turíbulo. Assisti ao momento em que esse enorme porta-incenso, o maior do mundo diga-se, percorre toda a nave passando por cima da cabeça de todos presentes, sendo controlado através de uma corda, por um conjunto de homens no centro da Catedral.
É impressionante!
Confesso que o meu contacto com esta prática foi de certa forma engraçado porque não estava nada à espera que tal estivesse a decorrer.
Assim, quando entrei na porta do templo, vi algo lá ao longe, no topo, do lado contrário da nave, a deitar fumo e que de súbito começou aumentar de tamanho à medida que vinha mesmo, mesmo na minha direcção.
Pensei… Então, um homem vem fazer o caminho e vai na volta e leva com isto em cima à chegada?!...
Afinal passa por cima de nós, sobe até ao alto da nave e vai a grande velocidade para o outro lado.
Dei uns passitos ao lado e fiquei a assistir.
Chamem-me esquisito mas tenho para mim que se aquilo se soltar e acertar em alguém é capaz de não dar muita saúde.
Saí para a Praça do Obradoiro e fui buscar a Compostelana, o documento que atesta que fizemos pelo menos os últimos 100 km do caminho a pé.
Estava eu no posto de apoio ao peregrino quando entra um rapaz todo equipado para andar de bicicleta para vir buscar o seu certificado. Tirou o capacete, começou a falar com a empregada do posto e disse. Sou português.
A rapariga sorriu e disse-lhe que eu também era.
Ele vira-se para mim e pergunta-me de onde tinha partido. De Astorga respondi.
Isso é a quantos quilómetros? – perguntou-me.
São 275 km, disse-lhe eu.
Deixaste a bicicleta lá em baixo? – pergunta-me.
Não. Eu vim a pé. – respondi-lhe eu.
A pé?! F…-se! – exclamou.
Aquele vernáculo, dito com um sotaque carregado do Porto… foi impossível de não sorrir e muito menos de levar a mal, de tão genuíno e natural que foi.
Despedimo-nos e vim para uma taberna chamada “Os Sobrinhos do Abade” comer uns pimentos de Pádron, uma tábua de polvo à Galega, acompanhados de um belo pão galego e uma taça de vinho tinto, e acabar de escrever os últimos acontecimentos.
Haverá melhor maneira de acabar este périplo pela Galiza e parte de Castilla-Léon?
Ora deixa lá ver... Acho que não!
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11 comentários:
Bela história! Contada com o sotaque do Norte ficaria diferente eheh!
No final de uma travessia a solo, num país estrangeiro, quando não ouves falar português há 12 dias, ouvires aquilo com tanta graça e tão genuíno não consegues deixar de te rir.
A maneira como relatas esta experiencia faz com que passe da dimensão de estudo infernal para Santiago num pulinho.
Gostei do rapaz a falar português, mas ficou-me cá na minha ideia esse tal "polvo à galega" hummmm :P
A Galiza, tal como em todo o norte de Espanha tem uma gastronomia muito boa.
Ir à Galiza e não comer uns pimentos de Pádron e polvo é um atentado.
Eles fazem-no de várias formas.
Se passares em Melide que fica no trajecto do Caminho Francês de Santiago, não deixes de ir à Pulperia Ezequiel. É incontornável.
O melhor é dormir na terra, pelo sim, pelo não...
Ainda há uns 3 anos fui fazer uma descida na galiza mas eu, o Pedro e uns outros (entre os quais, uma canoista filandesa adepta de sopas)achámos que o rio ía muito baixo - bom para umas pessoa se aleijar a sério e fomos antes a uma tasca com aspecto manhoso comer qualquer coisa, mas enfim a fome era negra.
Levaram-nos para uma salinha nas traseiras e foi só pedir - polvo à galega, ternera no forno, pimentos de padron, calamares, pão, ovos mexidos com cogumelos e pimento vermelho - estava tudo tão bom e em tão grande quantidade!!
Nós ficámos estupefactos com o preço que nos cobraram e a filandesa ficou estupefacta com a quantidade de comida que conseguimos meter ao bucho, eheh.
Nunca fui a Santiago de Compostela e muito menos fiz o caminho, (homónimo), mas se já tinha curiosidade, depois da tua descrição, a vontade de conhecer é mais que muita. De repente, a hora de almoço transformou-se numa viagem (imaginária). Adorei o relato e o polvo deve ser divinal!
De facto cada vez andamos menos a pé e fazer 275Km é obra, não admira que o rapaz ficasse espantado, com sotaque o não...
Parabéns!
É uma experiência única, e que sinseramente aconselho a todos. Actualmente é fácil arranjar material (não é preciso muita coisa) e não são umas férias caras.
Os 275 km são uma pequena parte (1/3) do caminho francês que as pessoas habitualmente, iniciando em S. Jean Piet de Port.
No entanto, o troço Astorga-Santiago e o S. Jean Piet de Port - Puente La Reina são os mais bonitos. Não que o resto não seja, pelo contrário, mas a planície tem pedaços mais dificeis psicologicamente.
já agora oh enciclopédia... sabes de um caminho que comece algures na holanda? a internet dá mta informação... :D grata
Caminho para onde? Santiago? Há muitas grandes rotas (GR) na Europa Central e PI.
Muitas são coincidentes com Caminhos de Santiago.
Este ano conheci um holandês que vinha de BTT desde a Holanda até Santiago.
Parece que o caminho de BTT mais tradicional começa em Haarlem.
Maastricht tb a pé. E sobretudo Amesterdão - Visé.
Depois daí ligam às Francesas.
Em França os mais conhecidos são:
Via d'Arles, Puy En-Velay, Vezelay e Tours (de Este para Oeste)
:D tankiu veri náice
Em França parecem ser todas mt interessantes.
A de Puy é linda mas mt fria nesta altura do ano.
A de Tours pelo que me contou um rapaz que conheci este ano, é bonita mas como é mt plana numa parte não é tão interessante.
O troço Orthez, Navarrenx, Sauveterre de Béarn, S. Jean Piet de Port tem partes deslumbrantes assim como o Lescar, Col de Somport, Jaca.
Espero que ajude.
Daqui a uns mesitos já devo ter mais novidades
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